Tomo (traduzo e colo) este artigo assinado por Ruymán Rodríguez (*), de quem já tenho tomado outros artigos de opiniom nesta minha bitácora, a propósito da polémica sobre a prostituiçom e sua possível sindicaçom e sobre a necessidade de que o lúmpen tome o protagonismo da sua emanicipaçom, que foi publicado na web da Rádio Klara:
A esquerda política, e desde fai umas décadas tristemente tamém certo espectro do anarquismo, é profundamente classista. No senso de que crê que a sociedade está constituída por classes antagónicas e promove o desaparecimento destas? Nom, no sentido de quem tem preconceitos elitistas para as pessoas mais golpeadas polo Sistema.
Lamentavelmente, o feito de que quase todos os fundadores teóricos do socialismo no século XIX (com a excepçom de Proudhon e pouco mais) fossem de classe acomodada, propiciava que na sua reformulaçom da classe operária excluíssem sistematicamente à gente mais pobre e marginada. Isso aludia a todas aquelas pessoas que só podiam aceder a trabalhos irregulares e a qualquer ocupaçom condenada pola lei ou a moral e as convençons sociais. O termo “lúmpen-proletariado” (“proletariado em farrapos”), acunhado por Marx e Engels no seu Manifesto do Partido Comunista (1848) [1], nom tinha outra intençom que denigrar e traçar uma linha clara entre proletários e “subproletários”. A seu modo de ver, o “lúmpen” é, quase sempre, instintivamente contrarrevolucionário e, se nom é arrastado pola força ao campo da revoluçom, deve ser, pouco mais ou menos, fuzilado [2]. O socialismo centralista e estatista tem mantido opinions similares até nossos dias. O anarquismo, pola contra, nom foi até fai pouco que começou a adquiri-las.
O discurso de Marx e Engels já era confrontado naquela época por Bakunin. Para ele, o marxismo excluia da equaçom política a seitores (nom só ao “lúmpen” senom tamém á campesinhada) cujo potencial revolucionário nom se podia desdenhar às presas. Bakunin, ainda que às vezes caísse numa desnecessária romantizaçom e idealizaçom [3], tinha claro que nom se podia segregar do projeto revolucionário a quem justamente mais o precisavam:
“[…] O proletariado extremamente pobre, esse lúmpen-proletariado do que os senhores Marx e Engels, e em consequência toda a escola social-democrata da Alemanha, falam com um desprezo profundo, é tratado muito injustamente, porque nele, e somente nele, e nom no estrato burguês da massa operária […], é onde está cristalizada toda a inteligência e toda a força da futura revoluçom social” [4].
Abrir os braços aos seitores mais pobres do proletariado, que outras forças políticas recusavam, foi uma constante do incipente movimento anarquista para além de Bakunin. De Stirner ao anarcondividualismo francês e italiano e deste ao anarcosindicalismo ibérico. Quiçás por isso o anarquismo fijo-se especialmente forte entre as massas labregas das regions mais deprimidas e entre a populaçom urbana mais marginada das grandes cidades. A importância nos posteriores acontecimentos revolucionários dessas oprimidas acusadas de “desclassadas” porque viviam nas margens da moralidade burguesa, demonstraria o erro do anatema marxiano. Desde a Comuna de Paris (1871), passando pola Semana Trágica de Barcelona (1909) até a Revoluçom espanhola (1936), as ninguém, as sem nome e sem classe, foram ponta de lança à hora de enfrentar à reaçom [5].
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