“Cruzar o Rubicone” x Ruymán Rodríguez

Colo acá (traduzido) este artigo de opiniom que recolho da web de “La Soli” catalá, autoria de Ruymán Rodríguez (*): Desde meu particular ponto de vista considero que deveria ser de leitura obrigada para toda pessoa que, quanto menos por estes lares, se sinifique como anarquista, índe que tamém aconselho sua leitura a aquelas que se dim antisistema e profissam outros ideais. É um artigo escrito desde o pessoal e que transcende a qualquer; que fala da soidade das ativistas comprometidas e da carência, nos coletivos libertários, de rudimentos para socorrer ás suas militantes e de protocolos de atuaçom para quando algumha delas cae nas gadoupas do poder. Além questona-se as exigências das que pouca fam para coas mais comprometidas; quando deveriam ser recetivas da maior sensibilidade e tenrura.

Cruzar o Rubicone x Ruymán Rodríguez

Nota preliminar: Reconheço que duvidei se publicar este artigo. Os ambientes estentóreos, masculinistas, militaristas, marcarom demasiadas vezes a militância do resto. “Ao ativismo vem-se chorado de casa”, oim algumha vez. É o discurso próprio de círculos onde se rende culto á força bruta desde a débil postura do espetador. Expressar os próprios fracasos, límites, vulnerabilidades, contradiçons, é algo que incomoda a um seitor do movemento libertário que, fincado voluntariamente na derrota, tem a necessidade de vender propaganda triunfalista. Depois de consultar a várias companheiras alheias ao meu círculo mais próximo, decidim-me finalmente a publica-lo. Crio que pode servir para reflexionar e para arroupar a todas aquelas náufragas que se sentem sozinhas no océano da militância.

Na antiga Roma o rio Rubicone marcava a fronteira que nenhuma legiom podia cruzar sem autorizaçom do Senado. No ano 49 a.C., Júlio César inhorou tal proibiçom e cruzou o rio co seu exército, sabendo que suponhia de fato umha declaraçom de guerra. Cruzar o Rubicone sinifica, desde entom, tomar umha resoluçom que se sabe irreversível a pesar das consequências.

O ativismo social obriga muitas vezes ás suas militantes para cruzar o Rubicone. Eu vadeei essa beira, meditei os riscos e atravessei-na sabendo que nom haveria marcha atrás. Dá vertigem porque, quanto menos no meu caso, deixei muitas coisas ás minhas costas: trabalho, casa, família, vida. Botando a vista atrás nom podo afirmar que figera o correto, só que na altura eu cria que sim.

Muitas de nós estamos metidas em círculos de retroalimentaçom e autocomplacência. Pero quando decidimos sair de ai, o habitual é que afora faga muita friagem. A gente que adoita ir mais lá vive intoxicada por umha épica alentada polas que nunca se movem do seu sítio. Moitas moças derom o milhor das suas vidas e convertérom-se em carne de indigência, cárcere, cemitério ou depresom seducidas por aquela cantilena que nos convida a morrer “polas ideias”. Mais valeria fazer-lhe caso a Georges Brassens quando dizia que para morrer polas ideias sempre haverá tempo de abondo e que é milhor deixa-lo para “mais adiante”.

As mais ativas de nós, as que nom se conformam com limitar-se a palestras e eventos e querem caminhar longe das margens do seguro, fam-no sem rede baixo os seus pés. Gostamos de acirrar ás demais para que arrisquem e vaian índa mais longe, pero case nunca movemos nem um só dedo para criar as estruturas que as recolham se caem. Precipitámo-nos ao baleiro entre aplausos, pero quando toca recolher os restos todo o mundo tem algum outro assunto mais importante esperándo-lhe noutro lado.

Dicía Emma Goldman numha carta a Max Nettlau que “nós, as revolucionárias, somos como o sistema capitalista. Sacamos dos homes e mulheres o milhor que possuem, e depois quedámo-nos tam tranquilas vendo como rematam seus dias no abandono e a soidade”. Isto aplicáva-se perfeitamente ao periplo que acabaria sofrindo o seu companheiro Alexander Berkman: tiranicida frustrado, preso, propagandista, organizador lendário e, na sua última época em Paris, alguém que tentava fugir da miséria e que se acabaria suicidando ao nom logra-lo. Como el há muitos mais exemplos, vítimas dumhas ideias demasiado elevadas e dum movemento que nom soubo estar á altura. Nomea-las a todas ocuparia cada letra deste artigo e ainda assim nom bastaria.

Sim, avançou-se na toma de consciência sobre a necessidade dos coidados (que tanto se mencionam) e tamém algo na elaboraçom de ferramentas de apoio. Muitos colectivos de antipsiquiatria estám a fazer circular útil informaçom respeito disso. Fam umha laboura moi louvável e pouco reconhecida. Pero o certo é que polo comum consideramos que isto é “responsabilidade” dos devanditos grupos específicos e nom algo que nos competa a todas. Passa como cos grupos pro-presas, que devem adicar-se em exclusiva a suplir carências mentres as demais somos incapaces de tecer solidariedade sem que o resto da nossa atividade véja-se comprometida. É algo de difícil resoluçom sem umha reflexom e implicaçom colectiva. Crio que mais que delegar em colectivos especializados, cada agrupaçom, bem seja um sindicato, umha específica, um grupo de vivenda, um CSOA, ou umha assembleia de bairro, deveria entender como a sua responsabilidade manejar certos rudimentos para socorrer ás suas militantes e ter estudados uns mínimos protocolos de atuaçom.

Pero nom podemos negar que, a pesar dos avances, o feito até agora resulta insuficiente. A maioria das vezes as estruturas mentais dos nossos colectivos som, como dizia Goldman, similares ás dumha empresa capitalista, ou mesmo piores, porque na militância nom há baixas por depressom. Nom se entende a necessidade de tomar ar ou baixar um chanço senom é em chave de deserçom, nom paramos de presionar ás demais para que deam mais de si mesmas sem avaliar quanto estamos a dar nós, julgamos qual é o momento mais apropriado para que as demais joguem a toalha coma se a sua resistência física e emocional nom contara. O ativismo ve-se como um hobby para muita da militância sumida na autorreferência, pero para outra parte é pior que um trabalho. Um inferno ao que nom se quere volver se nom te espoleara o sentido do dever. Persoalmente, ás vezes encaminhei-me cara á militância tam angustiado que desexei nom chegar nunca e descobrim com toda a fondura do termo o que sinifica a resiliência.

O pior é que essa tendência para exigir se recrudesce coas mais comprometidas. Vémo-las tam fortes, tam seguras, que reclamamos mais do que humanamente podem dar. Ao final a enfermidade física, anímica, social, pode esnaquiza-las, pero nom o vemos porque a personagem tápa-nos á pessoa.

Nestas circunstâncias a sensibilidade e a tenrura deveriam ser parte do ar que respiramos nos ambientes libertários, pero no canto disso padecemos de hipercriticismo (nom cara a nós mesmas, senom cara ás demais). Lembro as críticas que recebera Jaime Giménez Arbe porque atracava bancos a mão armada e recordo tamém as críticas a Enric Durán porque fazia algo similar pero usando só a inteligência. Ao final eu nom podia evitar cabrear-me e perguntar ao alto: quererám vostedes, senhoras críticas, entrar num banco e ensinar-nos dumha fodida vez como deve fazer-se? Pero nunca houvo resposta, nem a esperava.

Muitas companheiras som chatadas de perigosas “radicais” nom polos meios de comunicaçom nem polas profissionais da política, senom polas suas próprias colegas de assembleia. No outro extremo, até o éxito mais humilde supom para as dogmáticas umha concesom ao sistema porque só aceitamos o fracaso. O anarquismo foi, desde antes do “Noi del sucre”, um movemento caníbal. Pero nom é autóctone de nós; é-lo de toda atividade grupal, seja social ou política.

O contato coa realidade alheia ao movemento tamém mata, como um ambiente viroso hostil fai cum organismo imunodeprimido. Chegas á gente, ajúdas-lhes, e esperas que correspondam ao teu esforço. A primeira decepçom, a primeira traiçom, o primeiro golpe, é coma se algo se che derruba-se por dentro. Já dizia Ortega que “o esforço inútil conduce á melancolia”. Para sobreviver a este caos ordenado, necessitamos ter certezas, sequências lógicas ás que aferrar-nos. As anarquistas temos as nossas: “a gente decidindo per se opta sempre polo milhor”, “se ajudas ajúdam-te”, “nom haveria maldade se o meio fosse o ajeitado”, etc. Quando algumha destas premisas som esnaquizadas pola realidade, dentro de nós prodúce-se um cataclismo que replica durante meses e ás vezes anos. As nossas convicçons mais íntimas som quebrantadas. Depois destas experiências enténde-se o atrativo da automarginalidade, a endogámia e o gueto autótrofo. Por desgraça já haverá tempo de descobrir que entre clons nom há menos desencantos. Ainda que se enmascare cumha linguagem teórica sofisticada, reproduciram-se como cópias exatas as mesmas desilusons e de certo tamém nos tocará a qualquer de nós falhar-lhe a alguém. Pero esta obviedade é algo que se adoita aprender demasiado tarde.

A realidade, com tudo, é sempre o muro mais alto. Lembro passar-me meses num habitáculo sem auga, sem luz e sem janelas. Botar-me a durmir no chão de formigom cum groso abrigo e as minhas mãos metidas nos petos para combater a friagem. Até entom nunca pensei que pudera fazer tanto frio em Canárias. Erguia-me ás 6:00 da manhã a militar e deitáva-me ás 3:00 da madrugada depois de militar. Entre médias trabalhava. Cada semana o esforço arrebatáva-me uns 3 quilos de peso. A maioria, como é natural e lógico, claudicou e eu tamém queria faze-lo, com todas as minhas ganas, a sério, pero nom podia. A “causa” era demasiado grande. Mais grande do que eu, que me tinha por individualista. Empezou-me a dar medo que nada me figera desistir, que estivesse a passar a linha da raçom para chegar ás fronteiras do fanatismo. Pensava em Chris McCandless, esse moço que o deixara tudo para fugir a Alaska, para seguir a sua própria causa, para ponher a prova as suas convicçons, para comprovar se se podia viver com apenas nada. Pensava nele, morrendo sozinho e ilhado, nesse velho ônibus abandonado que descreve Jon Krakauer  no seu livro “Into the wild” (“O Lado Selvagem”). Pensava nele, famento, geado, débil e convulsionante, deixando umha nota na que fazia crer aos seus seres queridos que morrera fazendo o que quiger. Pensava nessa nota e eu estava case certo de que mentia. Queria aforrar sofremento a quem a lera, pero na realidade devia ter medo e estar arrependido de levar a sua aventura até tam longe. Cria que mentia, porque isso era o que sentia eu.

Um dia, precisamente quando percatei-me assustado de que já nom havia nada (por humilhante, traumático ou doloroso que fosse) que me forçara a renunciar, compreendim que todas essas certezas que eu tinha sobre a vida e a gente na realidade eram absurdas regras mentais. Compreendim que a vida nom tem sentido, nenhum concreto e predefinido; tem o que lhe deas á tua própria vida. Compreendim que ajudar á gente nom implicava reciprocidade, que nom existe umha justiza universal retributiva. Compreendim que ia continuar o desafio, alheio a se as demais correspondíam-me ou á cordura do mundo, porque eu decidira isso assim e nom por nenhuma compulsom cósmica. Ia tentar foder o sistema porque nom queria someter-me a el e porque o resto de pessoas devia ter a mesma oportunidade que eu.

Mentiria se digera que nas minhas viagens pola península nom sentim toda a calor, o apoio e a solidariedade que nom se nota quando pensas que es um corredor de fundo. Isso reconciliou-me co movemento, pero penso em todas aquelas que nom tiverom a sorte da repercusom mediática das suas luitas. A gente que curra sem ver nunca os efeitos do seu trabalho e que coqueteam coa ideia de desaparecer silandeiro pola porta de atrás. Crio que como movemento estamos em déveda com elas, e devemos buscar a maneira de sair da inatividade pero sem deixar atrás a ninguém, sem aceitar nem umha só vítima por lume amigo, nem um só dano colateral, nem umha só companheira caida á que nom lhe tendamos a mão.

Hoje seguimos caminhando pola beira do Rubicone duvidando se cruza-lo. Se na outra beira esperáram-nos vozes amigas, um suporte digno, resultaria-nos muito mais doado decidir-nos atravessa-lo. Pero nom podemos queimar as pontes ás nossas costas se diante nom construimos antes nada. O contrário supom imolar a toda umha geraçom no altar das ideias. O capitalismo nom nos pode absorber tanto como para que esqueçamos que nenhum projeto ou doutrina, por grandes e importantes que sejam, valem nada ante a mais humilde e singela forma de vida.


(*) Ruymán Rodríguez

Trabalhador manual, “lumpen” de nascemento e autodidata. Militou em colectivos em defesa da povoaçom imigrante, no anarcosindicalismo e no 15M. Na atualidade é membro da Federacion Anarquista de Gran Canaria (FAGC), ativista contra os desafiuzamentos, partidário da okupaçom como projeto revolucionário e segue implicado na defessa da Comunitade “La Esperanza” (a comunidade okupada mais grande do estado espanhol). Recém,neste mesmo ano 2017, suas compas da FAGC venhem de recopilar seus escritos e tirar do prelo o livro “Con A mayúscula” com um pequeno e humilde reconhecemento aos seus case 20 anos de militância anarquista e que podedes lêr ou descarregar nesta ligaçom.

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